29 de julho de 2010

Como pegar mulher pra valer

"Deixe-a doida de tesão e tenha sexo o ano todo", "Seja o cara da cama dela", " Ela será sua em 3 minutos". Ler manchetes de revistas masculinas, na fila do supermercado, me fez lembrar dos velhos tempos de pré-adolescência, quando as revistas Querida, Carícia e Capricho nos iniciavam na vida sexual antes mesmo dos primeiros namoradinhos. As mães compravam por insistência nossa, mas nem imaginavam quantas vezes se repetiam palavras como pênis, sexo oral e lubrificação a cada edição. Assim como nós, amadureceram certamente as editoras daquelas publicações, que devem ter assumido a direção de revistas como Nova, que, na sala de espera das clínicas, nos fazem ruborizar com as putarias do tipo Amiga X (ex: Uma Amiga X minha pegou a vizinha transando loucamente com o jardineiro na garagem, e teve vontade de participar da cena. Ou mais diretas como: Fiz sexo anal com o amigo do meu filho, e fiquei viciada. Como meu marido viaja muito, acabei recorrendo a garotos de programa e não sei mais como parar).  O fato é que, diferentemente de tempos pretéritos, quando os homens não consumiam esse tipo de literatura, afinal, não precisavam aprender nada, pois eram macho-chôs, revistas como a Men's Health têm sido livro de cabeceira de muitos marmanjos. Descobri até que dois amigos assinam a danada! Desafiada por eles a dar umas folheadas nas edições, a fim de meter o pau (eu, claro) no suposto conteúdo machista e fútil, fui tomada de assalto com a boa sacada do material. É verdade que as chamadas de capa denunciam um donzelismo terrível. Mas as matérias, muitas escritas por mulheres, até que acertam direitinho nas dicas. Analisando melhor, é até bom que os garotões - donzelos ou sabichões - aprendam umas coisinhas e parem de insistir nos antigos truques abomináveis que julgam infalíveis. E nem são aqueles conselhos do tipo "ligue no dia seguinte" ou "descubra do que ela gosta". Talvez haja ali alguma coisa importante para os que pecam por falta de conhecimento ou estratégias erradas. Se reclamavam que mulher não vem com manual de instrução, agora podem se valer da bula e mandar ver na posologia. Mas  comam leiam com moderação, lógico.

15 de julho de 2010

Da aurora da vida

Amigo de infância é coisa pra se guardar debaixo de oito, nove, dez chaves, não? Afinal, carrega pedaço único nosso, o passado feliz, com a inocência perdida e a fé nas coisas simples. São laços firmes, mas não implicam parceria. Digo, não é incrível como seguimos caminhos distintos e, vez por outra, pensamos por que não mantivemos contato? Culpa das mazelas rotineiras? Chatice nossa? Esquecimento alheio? Talvez amizade e afinidade não sejam mesmo sinônimos. Atados os nós - que seguem assim desde os tempos em que éramos quase gente -, fica o sentimento bom, a prontidão para doar ombro, sangue ou qualquer préstimo ao amigo de velhos tempos. Mas não são necessariamente companheiros inseparáveis, daqueles que nos fazem falta até em poucos dias de distância. Podem existir amigos de infância companheiros. Mas não precisamos nos frustrar se os dois status não vierem juntos. Até porque não teria graça conviver o tempo todo com o passado. Ou deixar de receber e-mails, cartas saudosas e fotos antigas. Bom que seja assim. Mesmo esquecendo a canção. 

9 de julho de 2010

Síndrome de Kaká


- Quanto tempo! Como vão as coisas com aquele rapaz?

- Abuso. Comecei a perceber tanto defeito, tanta covardia! Na verdade, fiquei agora egoísta. Qualquer coisa que me dê um pouquinho mais de trabalho (incluindo homens), eu tô dispensando.

- Eu também estou tão blasé. Tô me achando a última coca-cola do deserto. Não quero mais nada mais ou menos.

- E aquele teu amigo, que tu achava Macho Alfa?

- Quê? Passado o deslumbre, começo a ver que se trata de mais um metido a merda. Ele se acha o galã, o bom partido.

- Bom partido? Ele tem que ralar muito pra chegar lá. Bom partido é aquela unanimidade, que você admira pela inteligência e pela integridade. Ele é metido por quê? Bonitinho, inteligência mediana que se sobressai pelo convívio com inteligências inferiores. O tipo de pessoa mediana.

- Pior. É hipócrita.Vangloria-se da imagem de bom moço, fiel, religioso, caridoso. Quando, na verdade, é safado, não pode ver um rabo de saia, e não contribui muito com as causas que prega.

- E o marido da nossa amiga, que voltou a beber e esqueceu as responsabilidades de pai? Ela saiu ontem de casa com o menino, que nem tem um ano.

- E o da outra a deixou cuidar sozinha da filha, que exige cuidados especiais, para raparigar, esta semana.

- E todos esses bancavam os bons partidos, não? Os melhores, pelos quais as mulheres deveriam agradecer todos os dias.

- Sinceramente, eles são como um time. Como a seleção brasileira, que, depois dos holofotes e do show mundial, voltam às origens fracassados. E, ainda por cima, sofrem da Síndrome de Kaká. Religiosos ou não,  posam de bons moços, quando, na verdade, são uns dissimulados.

- E ainda fazem a linha família. Mas só amam a si mesmos. O próprio umbigo, que julgam perfeito.

- Ah, coitado de Kaká! Ser comparado a esses bostas...

- É mesmo. O crime de Kaká é dizer "puta que pariu!". Os desse time não caberiam num palavrão.

- E eles nem teriam competência para chegar às Quartas de Final.

8 de julho de 2010

O mestre e os mamilos

O ruído da chuva forte no parabrisa não constrangia a risada despudorada das meninas no carro. Meninas é eufemismo, claro, uma vez que assim podiam ser chamadas mesmo (muitos) anos atrás, quando se apaixonavam por professores do colégio. Aqueles barrigudos, carecas e intelectuais e, portanto, maravilhosos. Riam do platonismo colegial pela associação com a admiração pós-graduada por certos doutores da sedução. Sedução para os machos dele!, diria uma delas. Mas ele gosta de uma de nós. Quem sabe não é nossa chance de convertê-lo ao lado negro da força? Que nada! Ele só me curte porque eu o faço ruborizar. Ou ele ruboriza por você. Não importa. O desafio é descobrir porque os mamilos dele estão sempre protuberantes sob a camisa. Também noto sempre! Ele sente frio, gente! Não, acho que ele fica arrepiado diante da riqueza intelectual da aula. Vocês esquecem da empolgação com a nossa colega. Rá, ou das lembranças das paixões de outras distâncias. É. É o frio. Que seja qualquer coisa. Esse tipo de mestre, desde a escola, sempre pôde ter poucos cabelos, muito diâmetro abdominal, poucos bons elementos estéticos até. O charme era ser sabido. Ainda é, gente. Mas hoje eles enrijecem os mamilos para qualquer freguesia. É, e sentem frio. Uma lástima.    

6 de julho de 2010

Coisa de mulherzinha


The Cure embalava o sofrimento de garotos que não choravam. Os clássicos garotos, controlados e equilibrados emocionalmente, que são como aço. Que rima com laço, com abraço. Estranho como o choro do homem saiu tanto do armário que banalizou o da mulher. Claro que não é geral, e que o fato não se pode (ou deve) chamar de bom ou ruim. Mas é interessante perceber as pequenas consequências simultâneas do endurecimento feminino e da sensibilização masculina. Expor o mais íntimo, vertê-lo, condensá-lo não é mais coisa de mulherzinha. Até porque a mulherzinha embruteceu-se um tanto - chamemos fortalecimento. Bom que se vão os tabus. Mas ficam os dedos? A mudança mostrou-se tão viva que se veem rapazes constrangidos diante da tarefa de ouvir uma pobre dama chorar. Atrapalhados, não sabem o que dizer ou como ajudar. Eles mesmos que choram (ou choraram) sem qualquer pudor. Talvez seja o medo das entrelinhas, das mensagens subliminares, de possíveis quintas intenções, dos signos, códigos e rótulos demasiados da pós-modernidade. Mas a coisa parece ser mais simples. E inofensiva. E das antigas. Lenço, ombro e abraço. Ou qualquer coisa que demonstre segurança, que confira sensação de "vai passar" ou "você não está só". Mirem-se no exemplo dos cafuçus. Eles é que eram Amélias de verdade.