22 de abril de 2010

Sacrifícios

A ideia de cruz pesada, ou de açoite nas costas nuas, ou de milho sob o joelho. Sacrifício. Sujeitar-se à dor ou abster-se do prazer, por causa ou ideal determinados, pode parecer dramático, lunático ou antiquado. Mas sacrifício não precisa ser associado somente a sofrimento. Há de se ganhar o trunfo depois dos caminhos de pedras. Há de se aprender com algumas dificuldades. De gozar depois das privações. Sacrificar-se pode significar esforço, determinação, perseverança, lucidez. Sem doer, muitas vezes. Abstrair, sublimar, transcender...vale se inspirar nos caminhos tibetanos para armazenar e transformar energias em prol do equilíbrio, em vez de desperdiça-las ao vento. Vale mais o pequeno momento de felicidade forjada ou o êxtase real? O espirro ou o suspiro? Os anos mais que os segundos? Quando se escolhe esperar pelo tesouro, parece sábio descartar as bijuterias. E que venha, com prazer, todo o ouro merecido!

16 de abril de 2010

CDF

Só mesmo sendo de ferro para suportar tantas horas na cadeira, frente ao computador. Em outras épocas, era possível estudar na cama, na rede, no chão...afinal, folhear livros e rabiscar papel pautado bastava. Voltar a ser estudante em tempos de tecnocultura, produção instantânea e otimização do tempo exige mais esforço. Ler, compreender, assimilar, resumir, resenhar, apresentar: tudo ao mesmo tempo, do livro ao PC. Mas o maior esforço parece ser o da abstração. Engraçado como, durante o tempo em que dedicávamos nossas horas a outras atividades, era difícil imaginar-se tão concentrada. Não importam a TV da sala em alto volume, as conversas familiares, os 300 mil telefones tocando e os dois milhões de teclados barulhentos ao lado; sua mente está a mil por hora, e tudo por causa de letrinhas miúdas xerocadas. Se o tempo é escasso, nada impede de ler um bocado na fila do banco, uma coisinha no banheiro, pedaços de madrugada. E o programa preferido do fim de semana? Livro com vinho. Uma delícia! Com muitas horas de atividade mental e poucas de sono, não dá pra ser diferente de chata. Você vai farrapando com os amigos, deixando de alimentar as redes sociais da web, abre mão de ser pop...até receber a alcunha de cdf. Pronto. Aquela figura de garoto ruivo norteamericano com óculos fundo-de-garrafa e você são a mesma pessoa, e só lhe restam livros e chocolates. O telefone já toca menos, a barra inferior na tela pisca pouco e as pessoas até nem fazem tanta questão de lhe contar piadas. Encarnado o espírito cdf, você sofre de excesso de lucidez, tara literária e instigação acadêmica...e quem quer ouvir sobre teóricos e teóricos? Esse estigma, no entanto, não é de todo ruim. Ficar mais sabida, conhecer pessoas inteligentes, aproveitar melhor o tempo e construir futuro compensa os sacrifícios e os rótulos. Afinal, passar horas no computador navegando em nada, dar atenção a gente fútil e fazer programas degradantes parece ser a fórmula real - embora travestida de modernidade - da solidão. Cdf dialoga com gente boa na leitura, valoriza os bons e fieis amigos de verdade e ainda paga meio ingresso no cinema (quando é possível). E quem achar ruim que vá naquele canto...que o meu é de ferro!